quarta-feira, setembro 30, 2009

Sonata de Verão


Amar-nos-emos como o silêncio marítimo dos dias de sol e dos faróis silenciosos, com todos os limites imperfeitos dos contornos da vida. Haverá sempre um riso contrariado, uma camisola esquecida, uma palmeira chicoteada pelo vento salgado da beira-mar, um gesto doloroso que nos fere sem pensar. Juntos somos um feixe apertado, perto demais para o conforto, às vezes, juntos somos os faróis em silêncio porque não avisamos o resto da humanidade para nos passar ao lado. Causaremos naufrágios um no outro, desgraças épicas de chuva como chicotes, causaremos tempestades selvagens e fúrias. Noutros tempos seremos outras coisas: as manhãs de silêncio e sal com o zumbir de insectos secretos, os dias agridoces de mãos dadas e camisolas esquecidas e pequenas contrariedades. Juntos somos um feixe, deus, um feixe tão apertado. Amar-nos-emos até aos limites mais remotos do silêncio.

4 comentários:

cazarim de beauvoir disse...

ainda é possível alguma prosa em língua portuguesa. ademais, fora com rilke e seu 'não escreva poesias de amor'.

Passionária disse...

Fora não, a frase está incompleta, acho que devia ser qualquer coisa como: não escreva poesias de amor quando estiver apaixonado... Sei por experiência própria que nunca consigo escrever demasiado perto das minhas emoções. E ser prosa, não poesia, tira-me a pressão de aquilo que um poema deve ser. Como sempre, agradeço as suas gentís palavras.

Anónimo disse...

Gostei muito dos textos mais recentes, há algum tempo que não vinha aqui. Este, talvez pelas referências marítimas, o vento, a camisola esquecida...Fez-me pensar em Al Berto. Muito bom. Continua. Bjos, N

Passionária disse...

Obrigada, Nô:). Tu sabes que os poetas que amamos nunca andam muito longe de nós...
Continuar continuo sempre, tu sabes, se conseguisse parar de escrever se calhar era mais feliz, não sei.
Tens, como sempre, a minha amizade.
i.