segunda-feira, dezembro 11, 2006

Viagem



Para a Cookie, com esperança

Por todos os sítios que passo procuro o traço que me possa levar a casa, procuro o lugar onde descarregar e abrir a alma, o conforto da luz acesa para mim. Poderás tu, com paciência, abrir-me e descobrir-me como as romãs, poderás tu abrir-me e descobrir-me como as coisas secretas e fechadas?

O meu coração é uma casa fechada, poderás encontrar-lhe a chave e morar nele? As minhas viagens têm o tamanho da minha solidão, procuro a familiaridade de um sítio onde pousar as minhas mágoas as minhas dores, qualquer coisa que me use o coração e o faça funcionar, qualquer coisa que o justifique. Procuro a casa onde descarregar as mágoas, a tua casa.

Poderás tu abrir-me os recantos secretos de romã, poderás tu abrir-me e explorar-me como os aventureiros às ilhas? Construo a minha vida na espera dessa chave, da tua chave. E viajo sempre a caminho de casa.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Brief Encounter


Para a Su, irmã da minha alma


Se eu pudesse voltar atrás até ti, se pudesse mudar maré de tempo e dor que nos afastou, quereria ir até ao momento em que começaste a afastar-te de mim, o momento exacto em que começaste a dizer-me o princípio deste longo, longuíssimo adeus. Diz-me, tu, nesse momento, como fizeste para desatar o amor? Como se faz para desamar, deixar o amor partir sem o segurar, sem o segurar cegamente, apesar de tudo?Se pudesse voltar a esse momento, ao preciso momento em que te afastavas de mim, olhar-te-ia mais longamente que o fiz então, o teu corpo amado de costas voltadas para mim, a afastar-te resolutamente, e para sempre, daquilo que tínhamos juntos. Talvez se me tivesse apercebido do definitivo de todas as coisas te teria dito adeus mais facilmente, com menos dor, enquanto o meu corpo guardava ainda o calor do teu, o cheiro do teu, a memória táctil da tua pele enquanto te amava ainda, livre de todas as dores. Talvez fosse mais fácil este longuíssimo adeus que te digo, com menos fios de dor e de raiva e de fúria para desatar e deixar cair.Diz-me, tu que te afastaste tão resolutamente, como fizeste para desatar os nossos laços, diz-me, onde começaste a dar-me o adeus que seria definitivo, em que ponto te começaste, lenta e seguramente a afastar de mim? Como fizeste para acabar assim o amor, fechá-lo como uma torneira, sem gotas que se arrastam?Se pudesse voltar atrás, aquele preciso momento em que estava ainda cheia de ti, de nós, dir-te-ia o adeus que o nosso amor merecia, sem choros, sem dores, não este monstro de silêncios e dúvidas que depois foi, não este buraco negro de ausência em que todas as coisas boa que tivemos se esgotaram e desapareceram.Tu que te afastaste tão seguramente, diz-me, como se acaba o amor, como se faz? Como se cortam os laços?