terça-feira, novembro 21, 2006

The English Patient


Para a Nô

"There is no god, but I hope someone watches over you"
No lugar onde outrora esteve o coração nascem as palavras como uma fonte, preenchendo o vazio. Nascem as palavras que evocam a luz dourada do teu corpo no meu, o cheiro da tua pele na minha, acedemos assim ao amor por símbolos e por códigos, por sinais que lembram o que já foi e não será.
Vivemos. Nada poderiamos ter feito mais que viver, mesmo com o sítio do coração oco e vazio, mesmo se as coisas não voltarem a ser como naquelas tardes douradas de sol e de sal, mesmo se não voltámos a ser aqueles que eramos, ferozes no amor que tinhamos. Vieram as coisas, temos mais coisas nos braços que aquelas que tinhamos na altura. Amámo-nos vazios de tudo, apenas cheios um do outro. Agora amamos de coração ausente, nunca mais nos cresceu um novo, munca mais seria possível que crescesse.
Temos as palavras que nos evocam, amor, as palavras que enchem o lugar onde o coração esteve e não está já. Temos as memórias. Teremos ainda, nos momentos finais a textura e o sabor da pele dourada, a pele impossivelmente jovem que se encontra e se deixou, a memória desse doloroso e verdadeiro primeiro amor. E terá de nos chegar pois nada poderemos recuperar do que perdemos.

terça-feira, novembro 14, 2006

Recomeços


Todas as coisas começam e recomeçam, todas as coisas voltam noutros nomes e outros rostos e outras vidas, só o amor é o mesmo, as minhas palavras são as tuas, já o foram antes, e esta sensação de vertigem, como quem mergulha antes de se perder na espuma brutal da rebentação.

quarta-feira, novembro 08, 2006

O sono das Erínias

Depois de toda a raiva vem o sono, o cansaço de chumbo que prende os membros, o esquecimento. Ficam os dias cinzentos sem propósito, a modorra do tempo gasto sem honra nem glória. De nada serviram os golpes a cego, de nada serviu o golpe, talvez o sono sirva, talvez o esquimento. Talvez a imobilidade catatónica do choque de nada ter servido. Chega. Sim, talvez o esquecimento do sono.