sábado, setembro 23, 2006

Quem acredita em amor à primeira vista nunca deixa de procurar



Larry-A Anna dise-me que o teu gajo escreveu um livro. É bom?

Alice- Claro.

Larry- É sobre ti, não é?

Alice-Partes de mim.

Larry-Ah sim?E que parte deixou de fora?

Alice-A verdade.

Closer

quarta-feira, setembro 13, 2006

In the mood for love

Quando se tem um grande segredo conta-se a um buraco e empareda-se, dali não sai mais. Quando se tem um segredo carrega-se com ele entre as mãos fechadas para que não caia e não se parta e não se desvaneça, como os beijos ou as mãos dadas há muito tempo esquecidas. Quando se tem um segredo costura-se a boca e os olhos para que não saia, desprotegido, para que não fuja. É para sua própria segurança. Quando se tem um segredo não há mãos que cheguem para o segurar na alma, bocas que cheguem para o calar. Quando se tem um segredo está-se preso a ele, arrasta-se o segredo como as grilhetas, como uma monstruosa excrecência agarrada ao corpo, somos siameses do segredo e ele nosso, juntos pelas partes vitais, um só coração, uma só alma. Quando se tem um segredo verdadeiramente grande somos pobres com o ouro enterrado no quintal, miseráveis do peso avaro escondido, com medo que e veja a sua luz dourada através da terra e dos vermes. Quando se tem um segredo, é-se responsável por ele como por um filho que cresce e cresce e cresce fica maior que nós. Quando se tem um segredo não se é livre, não pode ser, nem feliz, não se tem paz. Quando se tem um segredo conta-se a um buraco e empareda-se para que não saia mais. Não quero mais nenhum segredo.

terça-feira, setembro 12, 2006

Vertigo


Em mim possuía as sementes da minha própria derrota. Sou inferior à minha sombra, à minha ideia, à ideia que fazes de mim. Como é fútil, tentei lutar e saí derrotada por ela, nunca a superarei. Não me ames pelo beirame, disse-te, Joane, como o do poema, mas é tudo um exercício fútil. No mundo a preto e branco dos sonhos a minha sombra vem por detrás de mim, à traição e desfere o golpe. Não a posso ferir, pois não existe, não a posso derrotar, porque está inatingível, não poderia crescer até ao que ela é, porque não é humana. Não bebas as minhas palavras, disse-te a ti, Joane, como o do poema. Estás bebâdo delas. E elas permanecem enquanto eu cresço e mudo e envelheço, um corpo-caroço da alma que te interessa, um resíduo. Derrotei-me a mim mesma porque me amas em efígie. Amas-me em metalinguagem. Amas-me pelo beirame, Joane, para lá da minha vulgaridade, da minha humanidade, das minhas fraquezas. Viverei sempre em ti quando nunca aspirei a mais senão viver contigo. Serei eterna como um símbolo ou uma deusa, mas não serei amada. Amas-me pelo beirame, Joane, por aquilo que construo e as palavras que alinho. Amas-me pelas sombras. Nunca percebeste: de ti não quis a eternidade, mas a presença. Não a abstracção do somewhere, some place, there's a place for us. Não viste, Joane como sou viva e real, amaste-me pelo beirame, Joane. E isso nunca te poderei perdoar.

sexta-feira, setembro 08, 2006



Não é o fim. Depois de tudo feito, dizes, depois de tudo dito. Foi só, como se diz, um episódio da novela mas a coisa continua, tem séries como o caraças não sabias, todos os anos há casting, dos actores antigos ninguém se lembra, vão para fora fazer férias e filhos e já não fazem parte da trama. Foi só, qual é a palavra, um interlúdio, uma daquelas coisas que a bem dizer não foi nada, no plano geral das coisas é um nó na tapeçaria, bem disfarçado ninguém vê, é como se nunca estivesse lá, não sabes, esse é o destino das coisas que não se vêem, esquece-se, desaparecem, como diz o ditado, longe da vista longe do coração. Não, se calhar não conheces mesmo, esqueço-me sempre como és, mas se não sabes fixa-o bem e guarda-o bem guardado, pode ser que te faça falta um dia, isto nunca se sabe, guarda que não queres e acharás o que é preciso, e este é outro que podes guardar, dois pelo preço de um, que eu estou uma mãos largas, bem disposta até a luxo de ser generosa me dou.
Nunca será fim, ou melhor será mas será para mim sozinha e só eu verei as letras brancas no ecran preto: the end e garanto-te que por essa altura o tudo dito e tudo feito já nem me lembrará, como é que se diz, foi um devaneio que não chegou ser nada. Chegaste a contar a alguém como não foi nada? Não acredito, mas tu é que sabes, whatever blows your skirt up, o que te faça feliz eu assino em baixo, para mim é-me irrelevante e, como te digo hoje, estou uma mãos largas de tão generosa, hás-de ser sempre o mesmo e eu não, siga o próximo episódio da novela e os amores e desamores. Posso bem com eles, fui feita para viver no mundo de carne e osso, tu nunca passas das duas dimensões onde não há toques nem sorrisos nem cheiros, mas whatever gets you through the day, se te consideras um enviado divino é problema teu e do teu psicólogo, como tu costumas dizer já tudo dito e tudo feito e siga para bingo. Mas, e não te esqueças, não é o fim.
Morrer de amor já não se usa, viver ainda muito menos mas se queres achar que sim que estou desmilinguida a morrer tuberculosa como a Traviata feel free, watever bows your horn, ninguém é inesquecível nem eu, como tu bem sabes, siga para bingo. Mal posso esperar pela novela a noite, ver próximo episódio mas para ti sou generosa, whatever rings your bell, be my guest, baby.