quarta-feira, setembro 30, 2009

Sonata de Verão


Amar-nos-emos como o silêncio marítimo dos dias de sol e dos faróis silenciosos, com todos os limites imperfeitos dos contornos da vida. Haverá sempre um riso contrariado, uma camisola esquecida, uma palmeira chicoteada pelo vento salgado da beira-mar, um gesto doloroso que nos fere sem pensar. Juntos somos um feixe apertado, perto demais para o conforto, às vezes, juntos somos os faróis em silêncio porque não avisamos o resto da humanidade para nos passar ao lado. Causaremos naufrágios um no outro, desgraças épicas de chuva como chicotes, causaremos tempestades selvagens e fúrias. Noutros tempos seremos outras coisas: as manhãs de silêncio e sal com o zumbir de insectos secretos, os dias agridoces de mãos dadas e camisolas esquecidas e pequenas contrariedades. Juntos somos um feixe, deus, um feixe tão apertado. Amar-nos-emos até aos limites mais remotos do silêncio.

segunda-feira, setembro 28, 2009

Ecos


Entre o que dizemos um ao outro há desfiladeiros de silêncio, habitados de estranhas, frágeis criaturas, com nomes demasiado dolorosos ou demasiado definitivos para se repetirem. Que diremos um ao outro que não as espantem, recolhidas em cantos dolorosos, que lhe diremos senão este quotidiano em que nada é grave ou importante ou definido, que nos diremos senão este espaço onde ainda tapamos os olhos para não as ver, estas estranhas criaturas definitivas que, se as chamarmos nos devorarão inteiros?