Radiografia
Está sol lá fora e a mulher mede-me por todos os lados. Ultimamente a paranóia deixa-me ver assim estas coisas de sombras em todo lado, mesmo onde eu sei que não há sombras. Porque não entra por aqui, pede-me, porque não passa e é só um minuto, tire a roupa, sim, tire a roupa. Fico ali encostada como se fosse uma coisa qualquer, como se conversasse ou comesse madalenas, se estivesse numa literária. Ah, mas vem alguém. Respire. E sobre a minha pele gelada o metal e o vidro e alguém me vê por dentro alguém me mede. Se encontrarem o coração por aí dentro, mandem-no para casa. Há meses que anda perdido e, mesmo não me tendo feito grande falta é sempre um adereço bom para se usar, um daqueles toques que, parecendo que não, dá outro ar. Se o virem aí dentro, mandem-no para casa.