quarta-feira, setembro 13, 2006

In the mood for love

Quando se tem um grande segredo conta-se a um buraco e empareda-se, dali não sai mais. Quando se tem um segredo carrega-se com ele entre as mãos fechadas para que não caia e não se parta e não se desvaneça, como os beijos ou as mãos dadas há muito tempo esquecidas. Quando se tem um segredo costura-se a boca e os olhos para que não saia, desprotegido, para que não fuja. É para sua própria segurança. Quando se tem um segredo não há mãos que cheguem para o segurar na alma, bocas que cheguem para o calar. Quando se tem um segredo está-se preso a ele, arrasta-se o segredo como as grilhetas, como uma monstruosa excrecência agarrada ao corpo, somos siameses do segredo e ele nosso, juntos pelas partes vitais, um só coração, uma só alma. Quando se tem um segredo verdadeiramente grande somos pobres com o ouro enterrado no quintal, miseráveis do peso avaro escondido, com medo que e veja a sua luz dourada através da terra e dos vermes. Quando se tem um segredo, é-se responsável por ele como por um filho que cresce e cresce e cresce fica maior que nós. Quando se tem um segredo não se é livre, não pode ser, nem feliz, não se tem paz. Quando se tem um segredo conta-se a um buraco e empareda-se para que não saia mais. Não quero mais nenhum segredo.

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