terça-feira, maio 27, 2008

A criança imaginária


Foto: Loretta Lux(Dorothea)
Dela se dirá do olhar, do silêncio. Dela se dirá da expressão de quem vê as coisas de um ângulo próprio, como as abelhas ou outros bichos pequenos a cujas asas são arrancadas pelas crianças cruéis. Dela se dirá de tudo, do azul e do branco, do rosa claro e das improbabilidades: crescer é uma actividade antitética. Dela se dirá que os olhos e a liberdade são do pai, que as mãos e as horas amargas são da mãe. Na verdade, aquilo que é permanecerá nas memórias próprias de dias muito longos e muito quentes, fechado por detrás dos seus olhos enigmáticos como uma carta fechada, o último dos selos místicos, porque inquebrantável.

1 comentário:

cazarim de beauvoir disse...

quebrantá-lo seria, portanto, o apocalipse. [tenho profundo respeito ao mistério: o indecifrável, quando compreendido em sua indecifrabilidade, nem por isso não pode ser tocado; tocá-lo é justamente quando por ele se deixa tocar - e conduzir.