A criança que fui corre ainda pelos bosques negros, tropeçando ainda em todas as pedras, cheia ainda dos terrores inocentes de bichas-de-sete-cabeças e de fados, dos sétimos filhos de sétimos filhos fadados a correr o mundo, transmutados em bichos comuns, porcos, cabras, lobos. Nesse imaginário podemos ainda, contra o mal, usar os talismãs inocentes segredados no recreio, cruzar tesouras à entrada, espalhar sal marinho à nossa volta e batermos na madeira, agarrar com as duas mãos os ramos do domingo de páscoa, a boca em cruz e sangue partilhado dos juramentos, as mãos dadas contra a trovoada e Santa Bárbara em esplendor de cabelhos molhados para fazer chover. É tudo tão simples ainda, para ela, que ainda não caíu na toca do coelho, que ainda conhece todas as certezas de cor e salteado, que ainda pode responder pelo bem e pelo mal e tudo se pode guardar tão simples, como seixos coloridos, penas, flores secas e dentes-de-leão a que se sopravam as delicadas hastes e se viam voar na luz esplendorosa de verões intermináveis.
sexta-feira, abril 17, 2009
A criança que fui corre ainda pelos bosques negros, tropeçando ainda em todas as pedras, cheia ainda dos terrores inocentes de bichas-de-sete-cabeças e de fados, dos sétimos filhos de sétimos filhos fadados a correr o mundo, transmutados em bichos comuns, porcos, cabras, lobos. Nesse imaginário podemos ainda, contra o mal, usar os talismãs inocentes segredados no recreio, cruzar tesouras à entrada, espalhar sal marinho à nossa volta e batermos na madeira, agarrar com as duas mãos os ramos do domingo de páscoa, a boca em cruz e sangue partilhado dos juramentos, as mãos dadas contra a trovoada e Santa Bárbara em esplendor de cabelhos molhados para fazer chover. É tudo tão simples ainda, para ela, que ainda não caíu na toca do coelho, que ainda conhece todas as certezas de cor e salteado, que ainda pode responder pelo bem e pelo mal e tudo se pode guardar tão simples, como seixos coloridos, penas, flores secas e dentes-de-leão a que se sopravam as delicadas hastes e se viam voar na luz esplendorosa de verões intermináveis.
sábado, março 28, 2009
Intermission
Às vezes não sou melhor que isto, que esta saudade insuportável, esta nostalgia à flor da pele, dolorosamente lenta e doce, até à náusea, até às lágrimas não desejadas, nunca desejadas. Neste intervalo, neste breve intervalo em que me fazes falta, volto de novo àquela tarde de sol e vento e estou de novo onde estava, com o meu coração não solicitado de novo nas mãos estendidas, tão estupidamente vulnerável, tão pouco inteligente, ou sábio ou resistente, frágil. Alguém devia, para minha paz de espírito, banir de vez o grito das gaivotas em tardes de sol, bani-las para que nunca pudesse estar como estou agora, num intervalo entre a vida e as possibilidades não cumpridas. Mais uma vez.
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quinta-feira, fevereiro 26, 2009
Objectos (XIII)
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quarta-feira, fevereiro 04, 2009
Epipsychidion
Be this our home in life, and when years heap
Their wither'd hours, like leaves, on our decay,
Let us become the overhanging day
Percy Bysshe Shelley
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segunda-feira, janeiro 26, 2009
Objectos(XII)
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terça-feira, janeiro 13, 2009
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