Objectos(I)
Que preço pagas pela tua consciência aplacada? Nada caro, nada mais caro que um ou outro almoço ou a gasolina do carro, nada mais caro que um objecto inútil ou um gesto inesperado. Não julgues que me escapa a violenta ironia de sermos os dois valorizados por baixo, como artigos inferiores. Afinal não dás mais pelo amor que um tempo furtivo, nada mais pela lealdade que uma volta por sítios discretos onde não te conheçam nem o feio segredozinho que me permiti ser. Valho tanto como um silêncio de dois segundos ao telefone, valho tanto como um mail de cortesia. Valho tanto como o teu toque em fuga, rejeitada. Tão pouco como o nojo, ou o desgosto ou a culpa do amor que não pode ser retribuído. Não preciso de coisas. Nunca mais, para ninguém, estarei em saldos.
1 comentário:
porque, afinal, o que mais comprova que temos valor é que alguém nos rejeite às vezes - porque precisa a todo o custo evitar a aproximação, por medo ou falta de entendimento ou capacidade. o silêncio, a propósito, fala mais do que nós, que só falamos verdadeiramente quando o ouvimos (como poderia ter dito heidegger, a partir do silêncio é que a linguagem fala, e nós falamos a partir da linguagem).
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