Arqueologia
Emergem à superfície os bocados dos gestos do passado, das memórias, em forma de detritos e de pedaços desconexos. Vestígios. Do presente, do tempo que agora é fica a estranheza perplexa das coisas que se perderam e se partiram presentes naqueles bocados, a tristeza vaga de uma certa noção de finitude. Nada permaneceu. E de certa maneira, tudo foi melhor assim, ninguém conseguiria então olhar para o presente, prever o destino das estradas que nos conduziram até aqui. O que se reconstruir daquilo será fechado em caixas e catalogado, longe das mãos que o tocaram, o que se reconstruir será objecto estranho e preso ao seu tempo, não contará. Poderemos, talvez, olhar com uma saudade, mais pressentida que sentida, das coisas que então foram, mas não voltará a ser presente. Estamos presos, estanques, no tempo que somos e nos espaços que somos. Vivemos sem a falta do que se perdeu, vivemos sempre. Dos passos que nos precederam e dos gestos em camadas sucessivas só sentimos a vertigem de olhar para baixo e para muito fundo. Nada reerguerá nada, nada o poderia fazer. Vivemos sempre melhor em frente e sem a noção de história. É mais fácil.
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