Sonata de Inverno
Somos, no entanto, catedrais de silêncio gelado, amplas salas cheias de tudo o que não tem nome e o pode ter, o poderia ter, cheias das possibilidades que só existem quando somos inocentes, muito novos, muito velhos. Pelo meio somos naus e absides laboriosamente talhadas de todas as horas diplomáticas do que nos negamos, colunas ao céu de controlo e ânsia, de todos os desejos de chegar à luz e que se ficam pelas subterrâneas águas geladas das noites de inverno, longuíssimas em solidões e culpas. Construímo-nos por oposição ao negro, não do que somos mas do que poderiamos ser, em possibilidades e falhanços.